“A leitura de histórias não só apoia a construção de sentido em torno da escrita, como também enriquece a interacção da criança com a leitura” (Mata, 2008, p.80)
Sabia que nas crianças a aprendizagem sobre a escrita começa precocemente antes de qualquer ensino formal? Em idade pré-escolar? A criança a partir do momento em que adquire a linguagem assume um papel central no seu próprio desenvolvimento, pois ela é activa e participativa no mundo que a rodeia. Ela vai assim construindo o seu próprio conhecimento à medida que explora o meio em que vive. Tendo isto em conta, as actividades de leitura e escrita contextualizadas na realidade da criança constituem-se como actividades de extrema importância, pois permitem uma fonte de exploração e de tomada de consciência sobre as características do código escrito. Esta tomada de consciência surge assim que a criança inicia o contacto com a linguagem escrita.
Diversos trabalhos de investigação sobre a leitura de histórias têm sido realizados. Estes trabalhos têm vindo a demonstrar que esta prática assume uma importância central, não só antes da entrada para o 1ºano – início do ensino formal da aprendizagem da escrita – como também ao longo da escolarização da criança. É indiscutível e de largo consenso a importância que a leitura de histórias assume quando se constitui como uma actividade regular, sendo uma actividade agradável e que proporciona interacções, vivências, partilha de ideias e de concepções. Ouvir e contar/ler histórias permite que as crianças interajam enquanto ouvintes e enquanto contadores de histórias, promovendo em ambos os casos capacidades de ouvinte, de leitura e de compreensão. É por isso considerada uma actividade rica e completa. Eis alguns aspectos que a vivência da leitura de histórias promove, segundo Mata (2008):
- Oportunidade para ouvir leitura fluente
- Alargamento de experiências
- Desenvolve a curiosidade pelos livros
- Aprendizagem de comportamentos de leitor
- Apoia o desenvolvimento de conceitos sobre a escrita
Ainda que fora do contexto escolar, as crianças aprendem muito sobre a escrita através da leitura de histórias. Aprendem que o mesmo texto aparece associado à mesma mensagem independentemente de quem o lê – a mensagem é sempre a mesma e aparece sempre na mesma ordem. A leitura de histórias permite, ainda, que as crianças se apercebam da orientação da escrita (da esquerda para a direita, e de cima para baixo) e das relações entre o oral e o escrito (quando o leitor aponta para o que está a ler), e ainda que as palavras se escrevem sempre da mesma maneira ao longo do texto, podendo a mesma palavra aparecer várias vezes sempre escrita da mesma maneira. Por fim, a leitura de histórias facilita o reconhecimento das letras e dos sinais de pontuação, de uma forma integrada e contextualizada, e que faz sentido.
Wells (1988, 1991), um dos primeiros autores nas investigações sobre a leitura de histórias, debruçando-se na frequência de leitura de histórias, identificou uma associação positiva entre a frequência e os conhecimentos sobre literacia das crianças aos 5 anos de idade. E identificou igualmente uma maior compreensão na leitura nestas mesmas crianças aos 7 anos. Nesta mesma linha de investigação, também Sénéchal e LeFévre (2002) identificaram associações positivas entre os hábitos de leitura de histórias em crianças de idade pré-escolar com o seu vocabulário nessas idades, tendo mais tarde avaliado os níveis de leitura dessas mesmas crianças no 3ºano de escolaridade. Concluiu-se assim que as crianças cujos hábitos de leitura de histórias eram mais frequentes apresentavam maiores níveis de leitura no 3ºano.
Os estudos descritos vieram assim enfatizar a importância da leitura de histórias em idades pré-escolares, sendo esta actividade considerada como importante e significativa, uma vez que permite e facilita não só o desenvolvimento precoce de algumas competências de literacia, como também se constitui uma base de motivação para a aprendizagem da leitura e da escrita, pelo seu carácter lúdico. Isto porque a partilha precoce com a linguagem escrita cria oportunidades às crianças de questionarem, de contactarem, de reflectirem, e obterem respostas e informações sobre a linguagem escrita, que vão permitir uma maior e melhor compreensão sobre as particularidades, potencialidades, e funcionalidades do escrito (Mata, 2004). Ler para as crianças é uma das melhores formas de encorajar a emergência e o desenvolvimento das capacidades literárias. Estas experiências de leitura têm vindo a mostrar que providenciam múltiplos benefícios (Zeece, 2007).
A escolha do livro também é algo a ter em conta e que carece de algum cuidado. Acima de tudo, o livro deverá tratar de um tema que seja do agrado da criança e que seja igualmente adequado ao seu contexto. Deve conter imagens coloridas e variadas, e inicialmente devem escolher-se livros com pouco texto. Mas à medida que a criança progride na leitura, devem escolher-se livros com texto mais longo, para ouvir, ler e para descobrir sílabas, palavras e frases (Mata, 2008).
Foi assim exposta a importância da leitura de histórias, sendo esta uma actividade extremamente rica, pois permite a relação do oral com o escrito, promovendo nas crianças capacidades na leitura, de compreensão do escrito e um desenvolvimento ao nível do vocabulário.
Madalena Ferreira de Lima | Psicóloga Educacional, para Up To Lisbon Kids®
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